11 de abr. de 2011

Corpo de Bombeiros sofre com a falta de estrutura em AL

Além da falta de equipamentos, corporação sofre com reduzido efetivo


 “Eu fazia o socorro de um paciente que estava desacordado. Nós precisávamos de um desfibrilador automático, mas não existia esse equipamento. Como ali se encontrava uma pessoa, cuja a vida dependia de mim, fiz massagem cardíaca por vários minutos. Eu não podia me cansar. Graças a Deus, ele acordou e eu concluí o atendimento com o sentimento de dever cumprido”.

 O relato acima foi feito por um oficial do Corpo de Bombeiros que participou de uma ocorrência que terminou com um final feliz. Mas, nem sempre é assim. Nos últimos anos, a corporação vem sofrendo com o sucateamento de viaturas, a falta de equipamentos de proteção individual e a carência de pessoal. O estopim que mostrou a ‘ferida’ aberta da instituição aconteceu no dia 2 de março, quando o major Carlos Buriti, durante uma operação de combate a incêndio no Pavilhão de Artesanato, na Pajuçara, desabafou e falou sobre as necessidades do órgão.

A carência relatada pelo bombeiro passa pelos setores de resgate, de salvamentos aquático e terrestre e de combate a incêndio. De acordo com o comando da instituição, o ideal é que cada quartel contasse com um trem de socorro, com uma viatura de resgate, uma viatura de salvamento e um tanque de combate a incêndio. Mas, a realidade é bem diferente.

O efetivo da corporação também não é suficiente. O quadro, atualmente, é de 1,3 mil homens trabalhando no Corpo de Bombeiros. O ideal seriam 2,7 mil. Para diminuir essa carência, 56 novos soldados foram formados na última sexta-feira (08). Eles faziam parte do pessoal da reserva técnica, que tinha sido aprovado há quatro anos.

Além da carência de pessoal, os militares reclamam dos baixos salários. São quatro anos sem reajuste salarial e, segundo eles, as perdas chegam a 30%.

O atendimento pré-hospitalar


Em Maceió, para as ocorrências pré-hospitalares, os Bombeiros têm quatro viaturas e quatro motos de socorro. Os veículos estão distribuídos nos quartéis do Trapiche, Tabuleiro do Martins, Serraria e Pajuçara. Em cada um deles, a quantidade de equipamentos de proteção individual (EPI’s) serve apenas para o número de militares que segue para as ocorrências, ou seja, não há EPI’s suficientes para cada um dos homens da corporação.

As viaturas também não atendem às demandas. “Há necessidade de renovarmos a frota. É preciso haver o entendimento de que nosso trabalho desgasta os carros e, por isso, em muitas situações, há o desfalque de viaturas nas ruas para fazer o atendimento ao público”, disse o comandante do Corpo de Bombeiros da capital, coronel Josivaldo Feliciano.

O resgate em acidentes

As unidades de resgate, que servem para o atendimento de socorro a vítimas de acidentes e para os salvamentos em altura e ribanceira ou quedas em poço, precisam de desencarceradores. Os dois veículos que existem estão ultrapassados e não mais têm a mesma funcionalidade. O equipamento serve para cortar a lataria de carro e facilitar o resgate de vítimas.

Para tentar sanar o problema, foram licitados seis novos aparelhos, mas o comando da coorporação não sabe quando eles estarão disponíveis. “Fizemos licitação para aquisição de um quilo de corda, 50 freios, 50 mosqueteiros e quatro almofadas. Aos poucos, estamos dotando o Corpo de Bombeiros dos equipamentos necessários”, explicou Feliciano.


Salvamento aquático

No salvamento aquático a situação é um pouco mais delicada. Faltam embarcações que possam chegar a 200m de distância da beira do mar e roupa de proteção para mergulhos. “Há locais em que os nossos mergulhadores não devem entrar por causa da insalubridade. Daí a necessidade das roupas específicas, das máscaras de isolamento, dos cilindros de oxigênio, dos coletes e dos respiradores. Falta parte desse material e isso acaba pondo em risco a saúde dos bombeiros”, confessou o coronel.


Para o salvamento no mar, os militares dispõem apenas de dois botes, que já estão antigos. E, mesmo assim, eles só têm capacidade para ficar nas proximidades das margens do mar. Caso haja um afogamento a mais de 200m de distância ou uma embarcação afundar, não existe transporte aquático para chegar até as vítimas. “Infelizmente ainda não temos essa estrutura. Mas estamos fazendo aquilo que está dentro das nossas condições. Por exemplo, firmamos um convênio com a Infraero e essa parceria vai nos ajudar a adquirir novos equipamentos de proteção individual para os militares”, declarou o comandante da capital.

Combate a incêndio e equipamentos

O Comando dos Bombeiros da capital reconhece que, caso haja um incêndio de grande porte em Maceió, a corporação não teria como controlar o problema. “Um grande incêndio exigiria de nós a execução de um plano de contingência, onde buscaríamos a ajuda de empresas que trabalham com caminhões pipas. Reconheço que só temos capacidade de atender a sinistros (incêndio) de pequeno e médio porte”, confessou Feliciano, informando que, na última sexta-feira (08), uma nova viatura entrou em operação. Ela foi adquirida por R$ 370 mil, por meio de licitação, com o dinheiro da taxa de incêndio, que, em 2010, arrecadou R$ 1,2 milhões. O restante do dinheiro está guardando esperando a realização de licitações para aquisição de EPI’s.
De acordo com o comandante, cada quartel deveria possuir dois caminhões de combate a incêndio, com capacidades diferentes de armazenamento de água. “Se tivéssemos uma viatura para a resposta imediata ao fogo e outra para apoio, o tempo resposta no combate às chamas seria muito mais rápido. Além disso, seria ideal a quantidade de seis bombeiros em cada caminhão, todos com seus equipamentos de proteção individual. Mas, há ocasiões em que só vão dois por conta da falta de pessoal e os EPI’s são coletivos, ou seja, todo mundo usa”, detalhou ele


Comandante reconhece carências

O comandante do Corpo de Bombeiros fez um desabafo: “Nós não temos condições de equipar cada bombeiro de forma individual e reconhecemos que submetemos nossos militares a desobediência das regras de higiene. Além do que, numa situação de emergência, se eles tivessem seus equipamentos, poderiam ser acionados para ajudar na resolução do problema. Hoje, caso acontecesse uma grande tragédia, nem todos poderiam trabalhar porque não estariam devidamente protegidos”, lamentou o oficial.

No entanto, Feliciano ressaltou que a chegada de novos bombeiros dará um novo ânimo à coorporação. “Eles vêm somar. Que Deus abençoe vocês pelo grande esforço que fizeram para chegar até aqui. Quero pedir aos veteranos que recebam esses novos bravos militares de braços abertos. Seja no fogo, no ar, na água ou em terra, sabemos que eles darão suas vidas para salvar as de outras pessoas”, pediu Josivaldo Feliciano.